domingo, 21 de março de 2021

Canção cavalaresca pr’uma alma decaída

Nem só de estupidez

São os atos estúpidos.

Pergunte a quem fez:

 

 “Doença grave se avizinha;

Que faremos, capitão?”

“Nada! É uma gripezinha!”

 

“Mas mata aos montes

Nos países por que passa.”

“Conversa da imprensa, trapaça!”

 

“Senhor, estão os nossos a morrer;

Em breve, serão pilhas.”

“Milagres, não posso fazer.”

 

“Senhor, não seria razoável

Nos precavermos com vacina?”

“Jamais! Temos cloroquina!”

 

“Mas, senhor, que funcione

Não indicam as pesquisas.”

“Pouco importa! Vale a futrica!”

 

“Precisamos de medidas profiláticas.

O senhor deve liderar a nação.”

“Pronunciarei contra máscaras

E em prol da aglomeração.”

 

“Indiligente! Morte o povo sofre

Faltará oxigênio...”

“Não pra quem não é pobre.”

 

“Desalmado! Como... Como

podes ser tão vil?”

“Cala, ou processo ponho-te!”

 

“Não te abala

Que mal faças?”

“Cala, que me pagas!”

 

“Foges ao dever!

Te acovardas! Prevaricas!”

“E tu és um maricas!”

 

“Governadores, a ti,

Pedem ajuda.”

                “Mimimi.”

 

“Insisto, capitão: a ti

Recorrem os que precisam.”

                “E daí?”

 

“Ainda uma vez, mandrião:

Acode os hospitais!”

“Cancelei o kit intubação.”

 

“Clamam-te mito, és um rato.

Serás julgado tempo além.”

“Para livrar-me de tal fato

Ponho a culpa em alguém.

 

E se ainda me afrontas

Com termos de baixo calão

Sejam tais palavras tua perdição:

Processo-te por ferir-me a honra.”

 

“A honra? Que honra, ressentido?

Ditador, pulha, alma decaída,

Delinquente, asno, pequi roído,

Cretino, parvo, genocida.”