quarta-feira, 30 de maio de 2012

Porta de saída


Logo ali há um silêncio
Bebendo cerveja, fumando pedra,
Acumulando compras, gritando ao vento
— Também há berro no silêncio.

Uma pessoa nula
Uma muda que não vingou
A desesperança compartida nos jantares de família
— Silêncio é maior que a voz antiga.

Logo ali, de mãos dadas com o trivial,
Há um silêncio
Guardando uma porta de saída.


quarta-feira, 23 de maio de 2012

Vaga-lumes


Não há por que falar
Sobre os ermos em mim.
A meu respeito, pouco interessa.
Em todo caminho há solidão.

Não há voz que interprete meus voos.
E mesmo se houvesse
Tivera eu a chance de desprezá-la, faria.
Porque meus ouvidos estão cansados
Desses dizeres de abismo
Com que mergulhamos na noite.

Basta-me ser parte nesse instante
E cavalgar, com passos distraídos,
A complexidade de um silêncio
E o espetáculo dos vaga-lumes.

quarta-feira, 16 de maio de 2012

Meu túmulo


E então projetei minha sombra eterna
Sob as sete mãos acolhedoras.
Não mais triste ou alegre, apenas fui
Levando trapos da canção materna.

E então fechei as portas que inadequavam
Essa matemática inconsistente.
Apenas fui. Triste, contente...
Sumido ao mapa paralelo ao mar.

Mas ouvi, no último instante, um ruído de terra
Sobre minha casa. Percebi sua grandeza.
Não física. Análoga. Encerra-se
Como eu: enorme, a guardar poeira.

Inerte. Era agora, por acaso, desejo
De mover-me. Tarde indo demais, sol posto.
Sem roupa, dinheiro; apenas rosto.
Nada teu. Só saudade. Apenas beijo.