quinta-feira, 28 de maio de 2020

O espelho que há na noite


Quando despertar a alta madrugada

Na contramão dos relógios ocupados

Veste em ti o homem insondável

E adentra resoluto as incertezas

 

Contempla o mistério urdido

No eco das palavras arbitrárias

E como colhesse a erva e o trigo

Arranca do escuro as cores impensáveis

 

Para compor teu espelho irrevelado

Imagem que furtiva te decifra

Quadro retocado do teu rosto

 

E rosto e quadro retocados

Ressoa à sombra teu repouso

Na espera e limiar do próximo traço.


domingo, 10 de maio de 2020

A liberdade que tardia


Neste sofá, de quarentena

Enquanto passa a pandemia

Vejo a tarde, que vadia

Do horizonte me acena.

 

Tem a tarde essa alegria

E a leveza de uma pena

Pinta o céu de açucena

Como fizesse uma poesia

 

Me alegro com essa cena

Que no céu se avia.

Com a alma mais serena

 

Eu, que triste ia

Embalo agora esse poema:

A liberdade que tardia.