sexta-feira, 4 de março de 2011

Formas e informes

Exibir forma: esse é o privilégio de todo conteúdo. E quem tiver olhos para enxergar o conteúdo por trás da forma considere-se iluminado, potencialmente livre de preconcepções errôneas e juízos de valor equivocados.

Começo a crônica com essa conclusão. Sempre me achei um cara descolado, capaz de enxergar pontos de vista -- o que habitualmente me rende bons frutos: amigos estão aí para comprovar. Mas desta vez foi armadilha: uma fila imensa, trinta minutos sentado num banco razoavelmente confortável, o som monótono do dispositivo eletrônico indicando a próxima ficha a se dirigir para o caixa e o inevitável sono contagioso das salas de espera. Pouco para quem deseja emoções. Estas só vieram com a chegada dele.

Entra o cara: boné com nome de grupo de funk (não cito nomes Se encontrar essa sombra, fuja!para evitar processos), camisa da inferno coral (nada contra a torcida, ela na dela e eu na minha), bermudão surfista de subúrbio (tenho vários desse), bigodinho à Latino. Perdoem-me o ranço classicista pequeno-burguês, mas dentro de um banco, em pleno século XXI, às vésperas do Carnaval e de você sacar dinheiro na boca do caixa, toda alma é cinza (para não dizer sebosa).

E lá vai ele posicionar-se perto dos caixas, local privilegiado para levantamento de quantias alheias. Desconforto geral, só aliviado pela surpresa: apesar de chegar depois de quase todos ali, foi atendido rapidamente. Sacou seu dinheiro, guardou-o no bolso e -- oh!, como é isso?! -- pediu licença educadamente a uma senhora parada bem na porta giratória.

A pancada final veio em seguida: ofereceu sua vez na porta giratória a uma mulher que entrava. E aí veio a iluminação repentina, que me ensinou algo a mais sobre as formas: a dele era apenas uma defesa.

6 comentários:

Catarina de Queiroz disse...

Já testemunhei situações assim. E muitas das vezes a imagem externa era mais arrumada que a interna. Esse cara na certa já se vestiu assim pra não levantar suspeita na saída do banco e ninguém desconfiar que ele carregava muito dinheiro. Muitas vezes as pessoas se vestem bem pra ninguém suspeitar que eles são os assaltantes.

Malthus disse...

O ataque é a melhor defesa, já dizia Telê Santana. Um visual agressivo pode evitar problemas. bjs, Cat

Anônimo disse...

Garotinho, achei o link do documentário que eu te disse! abraçusss....

http://www.tudoonlinebr.com/2010/09/veja-online-o-mundo-sem-ninguem-dublado.html

Garotão, rapá! disse...

É rocha, monstro. Dei uma olhada no início, parece ser bem interessante mesmo. Vou tentar ver hoje. uhuuu

Heber Costa disse...

Mermão, legal o texto. A gente também deixa de enxergar por defesa. Por mais que não queira, é obrigado a julgar os outros. Ser tolerante é um luxo que já não temos.

Malthus de Queiroz disse...

Grande Heberu. É verdade, cara. A tolerância é um luxo hoje em dia. Como costumava dizer o grande filósofo João Gordo, na época do RDP: "os crentes viram punks pra poder se proteger". heheh Abraço