quarta-feira, 4 de julho de 2012

Fortaleza longínqua


O passado é um retorno
Na avenida dos pensamentos
Contra o fluxo do movimento
Vai o passado e seus entornos.

Uma paisagem é uma lembrança
Uma lembrança é uma via
Uma via é uma instância
No trânsito das coisas que havia.

E foi nessa rua distante
Equação do tempo-espaço
Que me vi pedestre de ontem
Pelo caminho de cada passo.

Entrando na Fortaleza de outrora
Cidade de vias infantes
Pois as vias que existem agora
Não são as mesmas que existiam antes

Encontrei antigas passagens
Caminhos que compuseram jornadas
Os muros eram paisagens
Que passam na beira da estrada.

E, defronte daquele portão,
Da casa em que vivi
Buzinou a comoção
Dos caminhos que perdi:

A mão envelhecida do meu avô
Apontado o horizonte anoitecendo
Seu carro já parou
E ele ficou no acostamento.

Nunca mais essa estrada
Me levará nos braços
A despedida antecipada
Se resume num abraço.

Outros viandantes
Cruzam meu caminho
Amigos, parentes, irmãos distantes
Cada um em seu destino.

Tento alcançá-los
A rua é uma pressa
Andam apressados
Como eu ando depressa.

Uma rápida conversa
Fotos que se esquecerão
E cairão logo dispersas
No tumulto da multidão.

Estas ruas, todas,
Serão atalhos para minha infância
Sempre conterão as agora tolas
Minhas brincadeiras de criança.

Mas, olhando a rua e sua estreiteza,
Percebi o quanto cresci.
E reparei também que esta grandeza
Não me deixa mais caber ali.

Peguei o ônibus da tarde
Com destino às ruas do presente
Fortaleza agora é uma saudade
Com uma placa me dizendo “Volte sempre!”.

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